sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Relíquias dos deuses 2 - A Foice de Mandhros

A morte tem muitas faces, se Crisalis tivesse pego o caos emprestado com Mandhros esse teria pedido em troca os disfarces que usa cada vez que uma pessoa conhece sua obra prima: a morte. Não se engane com esperanças de anjos e luzes brancas, a morte raramente é tão bela ou romântica. Algo tão raro que vale a pena ser procurado e almejado, e assim foi por Aleit.

Por mais que não tivesse a imortalidade dos elfos, Aleit ainda era jovem e tinha tempo o bastante para se aperfeiçoar numa arte que aprendera ainda pequeno, criado num prostíbulo onde sua mãe lhe sussurrava para ficar quietinho no armário enquanto ela estava ocupada.

Aleit nunca pensou mau de sua mãe, cada um fazia o que precisava para viver, no caso dela era se vender, no dele matar... Matar como seu modelo paternal fazia, Luc era a versão simpática dos assassinos. Sempre gentil com as mulheres, sorridente com os amigos e implacável com seus trabalhos. Matava em nome das mulheres da casa aqueles que passavam dos limites ou não pagavam.

-Sempre segure assim, dá mais leveza e agilidade ao punho... – Luc explicava com uma adaga sem fio ensinando Aleit a maneja-la – Não importa se o estrago das espadas e machados é maior, Aleit. O importante é entrar e sair, rápido e silencioso. Para ninguém saber além de você o que aconteceu...

-Nem quem morre? – Aleit perguntava com seus belos e gelados olhos azuis brilhando.

-Se possível, nem quem morre!

Esse era o tipo de ensinamento que Aleit levaria por toda a vida e que no fim dos seus 26 anos ainda estava fresco em sua memória. Tanto tempo, tanto sangue e ainda não tinha alcançado o que ele julgava uma bela morte. Limpa, rápida, sem dor, sem noticia e sem bagunça... Deixar uma dama deitada na cama como se ainda dormisse um sono morno e tranqüilo, permitir ao velho senhor que repousasse a cabeça na poltrona como se tivesse adormecido lendo as últimas cartas. Mal manchar o cenário de sua composição de sangue, nenhum ruído maior que uma agulha caindo em outra sala. Ainda não tinha conseguido...

-Da próxima tente furar na garganta... – era uma voz baixa, mas tinha força, era rouca e fria como uma brisa na nuca que lhe faz arrepiar.

-Que? – Aliet se virou, sabia que o morto na cadeira não tinha dito nada, estava morto com um corte na lateral do pescoço. Mas tinha mais alguém ali. Quem? Tinha procurado na casa antes de fazer seu trabalho. – Quem está aí?

-Não se incomode comigo, por favor... Só parei para apreciar. Foi muito interessante o jeito que você destrancou a porta sem nenhum barulho...

Aliet teve que piscar algumas vezes para entender o que estava vendo, na frente da janela, ao lado da cortina e sendo chacoalhado pelo vento como a mesma um manto escuro como céu de tempestade e rasgado como trapos de mendigo, o vento levou parte do manto até seu rosto, não era tecido... Ao lhe tocar virou cinzas como papel queimado.

-Por Mandhros... – Aliet murmurou olhando as cinzas na mão que levou ao rosto.

-Por Mandhros, de Mandhros... – uma mão de pele pálida e ossuda apontou para o morto ali do lado – Para Mandhros...

-Quem é você? – Aliet deu um passo para frente, por algum motivo sentia uma certa empatia naquela voz e naquele ser.

-Já tive muitos nomes desde que Mandhros inventou a morte. Muito prazer, assassino, pode me chamar de Nihil, a Foice de Mandhros. – havia barulhos na rua, alguém estava chegando.

-Veio me matar? – Aliet perguntou sem nem tremer a voz.

-Não... Apenas dar os parabéns, você realmente facilita meu trabalho... – Se Nihil tivesse um rosto por baixo daquele manto, o rosto estaria sorrindo – Adoraria ficar e conversar, mas eu tenho coisas a fazer e você pessoas a receber... – Nihil sumiu só restando a cortina tremendo ao vento.

-Gerard! Gerard! Cheguei! – uma voz gritava.

Aliet não se alterou, primeiro por que não era devoto nem supersticioso, segundo por que não tinha medo de morrer, terceiro por que desde que ficasse calmo sairia dali sem problemas. Foi o que aconteceu, mas nos dias seguintes não conseguiu trabalhar. Ficava puxando os cabelos negros como se quisesse arrancar junto com eles alguma conclusão de sua cabeça.

-Desistiu de achar sua ‘bela morte’? – era a voz de novo, Aliet se levantou num pulo da cama e encarou, ou pelo menos pensava estar encarando, Nihil sentado na cadeira. – Olá...

-Você... Que quer comigo? – Aliet perguntou impaciente.

-Conversar... E você o que quer? – Nihil parecia ligeiramente mais dissimulado que o mais dissimulado que Aliet já conhecera. Mas o que mais poderia esperar de algo que não era humano e aparecia quando queria onde queria. – Minha aparência lhe incomoda, Aliet?

-Me parece muito comum para a foice de Mandhros... A aparência que qualquer criança imaginaria ao ouvir uma história de terror...- Aliet respondeu notando que Nihil se chamava de foice, mas não carregava nada. – Como uma foice mata sem lâmina alguma?

-Eu sou a lâmina... – Aliet olhou maravilhado enquanto um foice aparecia firme na mão de Nihil, a lâmina ensangüentada. – Talvez outra aparência lhe agrade mais...

Aliet se não estivesse acostumado com pouca roupa e mulheres lindas ficaria de queixo caído ao ver a aparência de Nihil se tornar uma jovem morena de olhos verdes e roupas justas segurando a mesma foice. A jovem sorriu abraçada a foice, mais um anjo da morte que um ceifador.

-Ou talvez algo mais sério... – a voz era a mesma, e a Nihil voltou a mudar se tornando um senhor de trajes sacerdotais, longa barba branca, só a foice não mudava – Que rosto você quer que a morte tenha, Aliet? O seu? – o rosto do senhor se tornou seu próprio rosto e Aliet pegou a adaga pensando em finca-la na cabeça de Nihil para que parasse de piadas. – Talvez não... – Nihil voltou a forma de criatura de manto negro e capuz lhe encobrindo o rosto.

-Pode matar qualquer um?

-De qualquer jeito... – Nihil respondeu.

-A qualquer hora?

-Não importa o lugar... – Nihil parecia se divertir com aquilo.

-Pode me ensinar? – os olhos azuis de Aliet brilhavam como os de uma criança que pedia por um pedaço de doce, a inocência reluzente neles era completamente oposta a vida que levava, mas ali estava.

-Claro que não... – O brilho de Aliet despencou até que ele foi tragado para um abismo de decepção, mas Nihil continuou a falar como se não ligasse ou não tivesse notado nada de diferente – Mas posso lhe ajudar a alcançar o que você deseja...

-Como? Duvido que a foice de Mandhros fosse boa o suficiente para ajudar qualquer um sem um preço... Só por admirar meu trabalho... – Aliet riu.

-Claro...eu cobraria com sua alma, mas acho um preço bem razoável para que você possa usar a arma mais letal de todo o primórdio.

-A arma mais letal? – Os olhos de Aliet tornaram a brilhar.

-E mais silenciosa...

-Qual?

-Temos um acordo?

-De que serve minha alma mesmo? Temos um acordo... – Aliet sorriu.

-Xeque-mate... – Nihil falou se levantando da cadeira – Xeque...e mate!

O movimento da foice foi tão rápido que Aliet não conseguiu acompanhar, antes que se desse conta já sentia seu peito ser cortado pela lâmina sangrenta, teria amaldiçoado Nihil se pudesse falar, mas nas atuais circunstâncias apenas caiu na cama. Mais tarde abriria os olhos com dor no peito onde ganhara uma cicatriz, passou os dedos sobre a marca da foice, mas não demorou até outra coisa chamar mais sua atenção.

-Nihil... – Aliet passou os dedos com suavidade pela lâmina ensangüentada, segurou com curiosidade o cabo negro enquanto lia as inscrições: Nihil. Uma adaga, nada mais adequado para alguém como ele.

Jogou sua adaga velha fora e colocou a nova no bolso, saiu de casa sem se importar com a camisa rasgada onde a cicatriz aparecia como se fosse um ferimento velho de batalha.

Invadiu a primeira casa que dava sinais de isolamento, entrou sem problemas, ficou num canto do quarto admirando os lençóis da cama, a posição da mesa que servia de penteadeira, sentiu o perfume das cortinas e esperou.

-Que dia... – vitima boa, tinha a voz baixa e suave. Largou o casaco na cama e se sentou na penteadeira, atividades marcadas pela rotina, sem olhar para os cantos, para o escuro, para o visitante indesejado. – Uma...duas...três... – ela contava enquanto penteava o cabelo.

Ele deu passos curtos e discretos, admirava como ela segurava firme o cabelo e a escova, talvez a posição não mudasse depois de sua morte. Chegou bem perto, ela não notou, cheirou o perfume de seus cabelos, a contagem chegou ao vinte. Sorriu e tirou a adaga de Nihil do bolso, uma perfuração rápida atrás do pescoço. Os olhos dela continuavam abertos, a mão esquerda no cabelo, a direita na escova. A perfuração foi pequena e não escorreu nenhum sangue, a lâmina o bebeu como um miserável sedento.

-Linda... – Aliet murmurou depois beijou a lâmina em agradecimento

Relíquias dos deuses 1 - A Capa de Mercius

Ser um ladrão já foi mais difícil, na época em que as cidades ainda eram vilas e aglomerados de pessoas perdidas ao redor de templos e adorações quando um ladrão era pego seu futuro era ser espancado até a morte pela multidão enraivecida. Elmeric viveu nesses tempos, mas que podia fazer se era pobre e a comida chamava enquanto o ouro reluzia. Vivia na periferia do que poderia ser chamado o centro dos orelhudos, um enorme templo de adoração a Mercius onde ou você era elfo ou trabalhava para eles.

-Me desculpe... Ahh, é só um bicho... – exclamou nosso herói aliviado depois de ter tropeçado numa daquelas bestas que os elfos usavam para cargas, o animal grunhiu, estava machucado de chibatadas. – Judiaram mesmo de você...
Por mais que fosse um animal, não dava para não ter pena, ferlix... Era esse o nome? Sempre tão maltratados e escravizados, alguns trabalhavam até morrer sendo mais tarde substituídos por outros. Elmeric viu os elfos se aproximarem e se afastou, era um humano perdido no meio de um lugar ao qual não deveria ter visitado. Mas fazia tempo que saíra de casa e prometera voltar com todos os meios para tirar suas irmãs e o pai velho da miséria, não importava o que tivesse que roubar... ou quem.

O Deus da magia e de toda criação deveria lhe perdoar o furto, afinal não precisava de ouro nem de jóias, de comida nem de água, já tinha tudo que poderia querer e o que não tinha poderia criar. Elmeric entrou no templo pelos fundos, como os servos que levam a comida e encomendas dos sacerdotes. Era uma construção alta, com abóbadas e torres pontiagudas, com esculturas e obras de arte, bela e ao mesmo tempo estranha, como algo que foi criado sem se pensar muito no que resultaria da combinação.

-É você o novo carregador? – uma jovem elfa de olhos profundos perguntou ao flagrar Elmeric entrando no salão do templo pela porta dos fundos.

-Sou. – mentiu por falta do que fazer.

-Estão precisando de você na Biblioteca, vá logo para lá. – a elfa mandou com ar de superioridade tão nítido que chegava a ser uma ofensa.

-Claro, minha dama. – Elmeric se curvou, mais para esconder o riso de deboche do que para mostrar submissão, assim que a elfa sumiu de suas vistas entrou correndo nas escadas que levavam até o subterrâneo. – Maldito vendedor de mapas, aqui não é a sala das oferendas só tem papel!

Um barulho de queda fez Elmeric levar um susto e se esconder atrás de uma pilha de pergaminhos, era uma humana provavelmente mais pobre que ele pelas roupas rasgadas que vestia e o modo animalesco que seus cabelos se encontravam. Ela tinha derrubado livros e agora os empilhava para voltar a carrega-los, tossia muito, talvez pela poeira e talvez por doença.

-Não acredito que você derrubou esses tesouros de novo! Mais uma vez e será castigada , Aimee! – um elfo gritou, mais babando do que falando.

-Perdão, senhor, mas a pilha está muito pesada. – a humana franzina e de olhos baixos se escusava.

-Não me venha com desculpas, sua destrambelhada! – Elmeric temeu que o elfo que erguera a mão fosse espancar a pobre moça, então saiu de seu esconderijo. – Quem é você?

-O novo carregador... – e piscou para a moça pegando mais da metade dos livros que ela carregava – O que faço com eles?

-Ela vai te mostrar, agora saíam da minha vista!

Ela não falou nem mais uma palavra, baixou o rosto e foi seguindo com os livros nos braços, morta de vergonha enquanto era seguida pelo ladrão que se fingia de carregador, desceram mais escadas. O mapa malfeito que ele comprara estava errado, no mapa só havia um nível subterrâneo, ali haviam de fato dois, um onde ficavam guardados os pergaminhos, grimórios e mapas e este segundo que Elmeric contemplava com curiosidade.

-Do que é feita essa sala? – ele não se resistiu a perguntar.

-Não é para sabermos, basta que saibamos que pertence aos elfos e ao seu Deus. Venha temos mais coisas para pegar. – ela chamou indo até a porta. – Vamos, não fique aí parado.
Elmeric não se moveu, estava encantado, a parede parecia ser formada de várias pedras preciosas empilhadas e grudadas umas nas outras e havia uma enorme mesa que lembrava muito ouro onde eles haviam colocado os livros. Elmeric só ouvira falar de tal sala nos contos mais estapafúrdios, uma sala de riquezas onde o Sumo Sacerdote do templo se senta para estudar as palavras de Mercius, a sala seria um presente do Deus para seu mais devoto servo.

-Parece ouro... – o ladrão deslizou a mão pela mesa, julgando que sonhava.

-Não toque! Ai se nos pegarem aqui perdendo tempo, esfolam você e eu... – Aimee se adiantou até Elmeric o pegando pelo braço – Vamos antes que o Senhor do Templo chegue!

-Você não tem vontade de pegar pra você? Aposto que uma dessas pedras a tiraria para sempre da servidão... – Elmeric falou encarando a garota que só agora ele notou chorava.

-Por favor, vamos embora... Se nos pegam aqui na cobiça nos arrancam os olhos... E se você pegar algo lhe cortam as mãos! – ela parecia amedrontada. Pulou de susto ao ouvir o som de passos – Ai de nós dois, tem alguém vindo... – ela se jogou contra a parede de olhos fechados, rezava baixinho, mas ele não ouviu para quem.

Os passos ficaram cada vez mais próximos, ele quis que a parede fosse de ar, poderia atravessá-la e puxar a garota junto para que os temores dela não se tornassem reais. Estava tranqüilo, sempre estivera, achava que tudo tinha uma solução, podia se safar, deu uns passos para trás, logo era ele e Aimee encostados na parede, ela rezando e ele esperando...

Uma desculpa na ponta da língua. E então... Continuaram indo para trás, agora a parede estava na frente, podia vê-la, mas não via mais a sala, virou o rosto para trás achando que tinha se virado e não notou, mas não, não estava no mesmo lugar.

-Aimee... Aimee! Abra os olhos, você conhece esse lugar? Onde estamos? – ele perguntou olhando ao redor, era uma sala simples, com uma única porta na parede oposta e uma caixa de madeira enorme no centro.

-Nunca vi esse lugar... Onde você me meteu? Ai de mim! – ela resmungou e a cada resmungo ele a achava mais medrosa e exagerada. – Preciso voltar pra biblioteca, antes que me punam! Preciso, preciso... – e ela saiu correndo pela porta a deixando aberta atrás de si.

-Que diz aqui...? – Elmeric encarou a caixa, não entendia élfico muito bem. Na verdade só aprendera o necessário para sobreviver – Mercius... ? – era a única palavra que reconhecia na caixa, tentou achar a tranca ou a divisória da tampa – Vamos lá... O que tem aí dentro...

Tateou, bateu, chutou e encarou... Nada mudava, não havia fechadura, tampouco tampa, tampouco conseguia levantar a caixa ou movê-la. Deu risada de sua própria teimosia e inutilidade, imaginou que se a caixa fosse um pão comeria o bastante para ver o que tem dentro. Teve que piscar várias vezes para acreditar que a cor da caixa mudou diante de seus olhos, adquirindo um tom marrom claro, deu alguns tapas na caixa e viu que textura também havia mudado. Conseguiu arrancar um pedaço com a mão...

-Ta de brincadeira... – levou à boca, era pão... Morno e saboroso, derretia na boca e enchia a barriga. Continuou comendo e achou que era um tipo de caixa dos desejos, mas então comeu uma grande parte do tampo e percebeu que era oca por dentro. Seu estomago agradecia e os olhos brilhavam curiosos. – Vem com o papai...

O que estava lá dentro brilhava como prata, brilhava tanto que Elmeric julgou que fosse pó de estrelas, mas era sólido e macio, deslizava por suas mãos como seda. De pé admirou aquela prata que formava o tecido mais brilhante que já vira, seu brilho foi diminuindo até se tornar um pano prateado que aparentava ser comum. Virou a capa ao contrário, vermelho como um rio de sangue por dentro e prateado como as estrelas por fora. Preso nos cordões prateados um pequeno bilhete com uma letra bonita dizia: me vista para criar o que sua mente desejar, mas perca a razão e nada conseguirá.

-Magia de Mercius? – Elmeric era um ladrão e como qualquer ladrão cobiçava a magia, mas não sabia usá-la nem entendia as instruções de grimórios ou bilhetes como aquele, então jogou o bilhete fora e vestiu a capa dando risada e se achando invencível. – Agora... Aonde estão os tesouros? – pegou mais um pedaço da caixa de pão e saiu andando pelo templo.

Elmeric era bom em passar despercebido, mas com uma capa chamativa como aquela isso era fisicamente impossível, não demorou muito para perguntarem quem ele era e o que estava fazendo ali. Com a maior cara lavada ele sorria e dizia ser um visitante do templo que se perdeu, disse isso tantas vezes num período tão curto que quase se convenceu disso, até ver uma procissão de sacerdotes correndo para todos os lados e gritando.

-O BAÚ DE MERCIUS! ABRIRAM O BAÚ! – essas palavras o fizeram apertar a capa como se temesse que ela lhe fosse arrancada, se sentia bem com ela, se sentia importante.

-ACHEM O INTRUSO QUE PROFANOU O BAÚ DE MERCIUS! MATEM-NO!
Elfos invejosos, só por que ele fora mais esperto e conseguirá abrir o baú, saiu correndo pelos corredores e escadas e assim que notaram essa estranha fuga começaram a persegui-lo. Seu coração queria pular para fora, não iriam lhe tomar a capa, era dele! Ele abrira a caixa de madeira, ele leu o bilhete de me vista. Encurralado e temeroso, tudo que queria era que as paredes fossem de água, que pudesse atravessá-las e correr pelo campo aberto.

-Não há escapatória... Você será condenado por profanar o baú de Mercius. – era um elfo com ar de importante, cabelos brancos e olhos negros.

-Anda parede... Me deixa atravessar de novo, que droga! – Elmeric esmurrava a parede, não entendia por que a capa não funcionava.

-Você não entende, não sente, não domina os poderes do Deus-Maior. – o elfo deu um passo a frente – Me entregue a capa e se renda... – ele estendeu a mão.

-NUNCA! – se embrulhou na capa como um mendigo se abraçaria a um trapo velho no frio congelante.

-Me entregue a capa e pouparei sua vida... – a mão se manteve firme no ar.

-ELA É MINHA! EU RECEBI O BILHETE! E EU VOU CRIAR UMA VIDA COM ELA! – Elmeric gritou, sabia que não iam fazer nada, tinham medo de estragar a capa, a capa era sua, era sua...Era isso! Por que estava nervoso? Não iriam lhe fazer mal para não danificar a capa. Não podiam tomá-la a força, ela era mágica...e era dele. – Vocês não são donos da magia, seus orelhudos senis.

As paredes ficaram num azul cristalino que lembrava os riachos da terra de Elmeric, atravessou as paredes e saiu correndo para a estrada, para a liberdade, ele nunca iria tirar a capa, era dele! Fora um presente de Mercius para ele! Para mais ninguém... Conseguiu fugir, em seus trancos e barrancos aprendeu a usar a capa, a colorir de forma diferente as coisas ao seu redor e fazer delas algo diferente. Conseguiu fazer uma vida nova, mas não lhe ensinaram que a magia tinha seu preço...

-ELMERIC! NÃO!!! – foram as últimas palavras que ele ouviu de suas irmãs que nunca mais passaram fome, enquanto ele sentia um frio e a respiração dos ceifadores em seu pescoço. Estava... morrendo...

-Minha...é um presente de Mercius...para mim... – suas mãos ainda apertavam a capa quando morreu anos mais tarde , pode-se dizer que sem arrependimentos. Ninguém nunca conseguiu despir a capa de Elmeric, mesmo depois que seu corpo se transformou em ossos e os ossos em pó.

Panteão Primordial 1 - Os três primeiros deuses

Nome:  Mercius
Status:  Greater god
Domínios: Magia, Ar, Fey, Mind, Criatividade
Alinhamento: Chaotic Neutral
Cores: Vermelho e Prata.
Símbolo: Um globo como que feito de mercúrio líquido, às vezes prateado, às vezes vermelho, às vezes com as duas cores em proporções indistinguíveis.
Outros nomes: O Uno; O Criador; Deus dos Deuses.

                                                        Representação divina de Mercius
         
                    Relatos élficos de Mercius                                                         

Personalidade: A personalidade de Mercius é absolutamente imperscrutável. Como o criador de todas as coisas - inclusive da personalidade - nem mesmo os deuses conseguem entender o que é Mercius. Sabe-se que por alguma razão ele cria - e cria muitas coisas - mas seus pensamentos, sensações e anseios estão muito além da compreensão mortal - ou imortal.


Relações: O Deus da Magia é, na prática, criador de todos os Deuses. Em geral, ele evita ao máximo interferir em qualquer tipo de relação com os demais membros do Panteão, talvez por saber que seu poder supremo sempre faria a balança pender a seu favor. Mercius cria, e observa sua criação enquanto continua a criar.

Descrição dos seguidores: Os seguidores de Mercius são as pessoas mais diversas do Primórdio. Entre eles há magos poderosos, camponeses indefesos e mesmo monstros e outros seres menos convencionais. Seu culto é o maior e menos unificado de todos. Aqueles realmente exclarecidos em relação ao deus - tanto quanto isso seja possível - afirmam que todas as entidades vivas ou não, veneram a Mercius, nem que seja por via indireta: "Se Mercius criou os deuses e os deuses têm seguidores, então os seguidores dos outros deuses seguem a Mercius." Essa é uma explicação plausível para o poder mais-que-infinito deste Deus.

Igreja: Existem diversas igrejas de Mercius, mas nenhuma delas segue uma organização padrão. Elas também não tem posição hierárquica fora da própria igreja, de modo que é impossível saber se o clérigo de uma cidade tem mais, menos ou a mesma autoridade que o clérigo de outra.

Sumo-sacerdote: Não há conhecido. O culto direto a Mercius é muito pouco coeso para que haja um, então caso de fato ele exista, não se apresentou.



Nome: Petrus
Status: Greater god
Domínios: Justiça, Human, Order, Law
Alinhamento: Lawful Neutral
Cores: Preto e Dourado.
Símbolo: O símbolo de Petrus é uma balança dourada, contendo, em um dos pratos, um sol, e, no outro, uma caveira. Este símbolo, em especial, tende a mudar de cultura para cultura, e de raça para raça. A única característica alterada é a forma da caveira - que assume características do povo em questão.
Outros nomes: Não há. O culto a Petrus é tão organizado e unificado que todos os povos conhecem o deus pelo seu nome original. Muito raramente seus sacerdotes se referem a ele pela alcunha de "O Supremo Juiz dos Deuses".



Personalidade: Petrus é o expoente máximo da ordem e da justiça. Não se pode dizer com certeza que seja um deus bom, mas como as criaturas boas tendem a ser mais justas em relação às más, Petrus normalmente protege aqueles de tendência benigna.
Além dos desejos mortais, ao mesmo tempo acima e ao lado de todas as criaturas - e mesmo seus criadores - jaz a figura mais imponente de todo o Primórdio. Uma estátua de pedra, sólida, perfeitamente acomodada em seu trono rústico. Um cavaleiro de armadura, uma proteção absolutamente lisa e impecável, cujo único desenho é uma balança dourada: de um lado, a luz tão forte como a do sol; do outro, a mais negra escuridão. Petrus, mesmo tendo apenas órbitas vazias onde deveriam estar os seus olhos, leva sua atenção a cada ato de injustiça que ocorre no mundo. E aqueles que provocam sua ira acabam vítima de Jus, a formidável espada longa que sempre adorna a mão direita do deus.

Petrus é o Deus da Justiça e dos justos. Sua neutralidade e perfeito arbítrio são lendários, assim como a fúria despejada contra aqueles que recusam a ordem. Petrus possui uma peculiaridade interessante: todos os povos o chamam pelo nome correto. Isso se deve ao fato de o deus despertar a idéia de que a justiça e o duro caminho dos justos são unos em si mesmos.
Petrus é um deus absolutamente calmo e controlado. Tem uma paciência tremenda para ouvir histórias, especialmente quando há partes em conflito. A própria idéia de justiça emana do temperamento do deus, tamanha a sua imparcialidade. Dizem que Petrus arrancou os próprios olhos para que jamais fosse capaz de ver aqueles a quem julgava. Dizem também que os olhos de Petrus são a mais poderosa relíquia do Primórdio...

Relações: Este deus é absolutamente metódico e organizado, motivo pelo qual conflita com Crisalis - apesar de alguns dizerem que ele seria filho, ou talvez amante da Deusa - e afrontaria Mercius, se tivesse poder para tanto. Na prática, é Petrus o detentor da palavra final com relação a qualquer conflito que haja entre os deuses - mesmo que o próprio deus da justiça esteja envolvido. Sua imparcialidade e seu senso de justiça são tão grandes que isso o impede de favorecer mesmo a si próprio.

Descrição dos seguidores: Todos os seguidores de Petrus, sem exceção, são defensores fervorosos da ordem e da justiça. Isso faz com que a maioria dos paladinos do Primórdio sejam seus devotos, e com que seus clérigos assumam freqüêntemente o cargo de magistrados entre os seus. Seus devotos tendem a assumir posições de magistratura ou próximas a esta, e normalmente, são as pessoas mais justas da face do Primórdio. Entretando há exceções - que quando descobertas são punidas com um vigor que assusta até mesmo os seguidores de Belliard e Mandhros.

Igreja: A igreja de Petrus é muito difundida e bem organizada. Os ranks dentro delas seriam:
Coroínha
Sacerdote
Clérigo
Aspirante a Cruzado
Aspirante a Inquisitor
Aspirante a Paladino
Cruzado
Inquisitor
Aspirante a Templário
Alto Clérigo
Templário
Paladino
Bispo
Sumo-sacerdote

Sumo-sacerdote: A cada sete anos um conselho da Ordem de Petrus se reúne para decidir os rumos da igreja da justiça e que ações serão tomadas no Primórdio. Isso também ocorre quando o cargo de sumo-sacerdote, líder deste conselho, fica vago, por qualquer razão que seja. É o que acontece neste momento...



Nome: Aestus
Status: Greater God
Domínios: Água, vida marinha, tritões
Alinhamento: Neutral Good
Cores: Azul e Verde
Símbolo: Uma serpente marinha mordendo uma espada ou um tubarão mordendo um tridente, depende da raça.
Outros nomes: “O Grande Azul” (Norfss e alguns povos de pescadores), “O Grande Tubarão” (Urgrosh), “Elemental das Águas” (Ferlix e Elfos), “O Tridente que corta os Mares” (Anões).
Personalidade: Aestus é um deus calmo e contemplativo, possuidor de grande sabedoria e paciência, contudo também é extremamente violento quando irritado.

Relações: Aestus evita se intrometer nos assuntos alheios como, também, não gosta de intromissões dos outros deuses em seus assuntos. Devido a um acordo com Mercius ele possui uma casta élfica sobre seu acolhimento, os elfos-do-mar (bem como sua prole cm tritões), estes também sendo imortais como os elfos terrestres.

Seu contanto com os outros deuses costuma ser pouco, embora ocasionalmente ocorra. Desse modo ele se mostra neutro e alheio aos outros deuses. Muitas vezes devido a isso ele não participa de qualquer decisão do restante do Panteão, mas não gosta que outras divindades façam algo que interfira em seus domínios.

A única vez em que agiu diretamente com outro deus foi quando os dragões cromáticos de Mercius conseguiram unir-se e ameaçaram destruir outros deuses e os elfos na terra, Mercius e Aestus juntos criaram Bahamut que criou diversos dragões Metálicos e juntos conseguiram conter os cromáticos e dividir e banir Tiamat do panteão.

Descrição dos Seguidores: Todos os sacerdotes de Aestus devem mostrar-se pacientes e sábios, contemplativos e pacíficos, evitando combates desnecessários. Contudo, quando uma luta se mostrar inevitável, devem agir com bravura e lutar até a vitória se mostrar impossível.

Os sacerdotes de Aestus podem ser de qualquer raça, embora o maior número esteja entre os elfos-do-mar e os habitantes de vilas e cidades costeiras, ilhas ou próximas a rios e lagos.

Entretanto, podem existir sacerdotes de Aestus em todos os lugares.

Igreja: A igreja de Aestus é bem difundida mesmo fora dos mares, mas evita tomar partido e interferir com outras coisas. Eles tem uma hierarquia própria, mas todos de fora da igreja desconhecem ela.

Sumo-Sacerdote: Dasgus Itninvill, um elfo-do-mar de pele azul esverdeada, com cabelos negros, olhos cinzentos e um porte físico invejável. É considerada a criatura mais temível existente no Primórdio quando luta dentro d'água. Contudo, é um ser extremamente pacífico e sábio, sendo incrivelmente paciente. No entanto, quando sua paciência acaba – e ela as vezes acaba – ele demonstra fúria sem igual. Apesar de ser um sacerdote seu poder de combate é extremamente alto.

O templo onde reside se encontra escondido no fundo do mar, entre o Continente Azul e o Continente Branco, e somente aqueles realmente dignos conseguem alguma vez entrar lá.

Quando tal coisa ocorre geralmente um avatar de Aestus também aparece para saudar o escolhido.