sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Senso de dever 1






          O monarca e seus dois sentinelas adentraram os corredores rochosos das montanhas ululantes. Faziam poucos anos que o antigo regente, Dragonslayer havia abdicado, e que o povo tinha proclamado Caine como rei dos elfos. Ele ainda não estava acostumado à coroa, porém o fardo ele já suportava há muito tempo, e hoje, talvez o mesmo fosse ficar ainda mais pesado. Suas roupas eram sóbrias, para denotar sua intenção, o semblante fechado, sem o costumeiro sorriso estampado, a coroa escolhida fora a de Onix, a ideia que assim que adentrasse o salão, o imperador já entendesse que ali não havia um elfo disposto a discutir.
       
          Os guardas anões eram uma visão incrível, completamente armadurados, tudo metal, apenas olhos e barbas à mostra, o berço deles podia ser uma terrível maldição, mas ao menos a terra havia sido generosa com os pernas curtas. Seus dois sentinelas caminhavam um passo atrás, um de cada lado, Caine não olhava pra eles mas podia sentir o olhar desafiante de seus homens a cada guarda anão que passavam, eles haviam sido bem treinados, eram dois de seus melhores combatentes, estavam juntos desde a era das lendas, desde a última invasão demoníaca.

          Alguns passos após a entrada, numa área central aonde a própria rocha havia enegrecido, jazia a espada de seu irmão Samuriel cravada no solo. A monstruosidade era maior que um ogro e até um desses bem grande teria sérios problemas em empunhá-la  - mas não seu irmão..... "Sam sempre foi o mais esforçado de nós três....e como evidentemente não conseguia ser o mais belo, inteligente ou ágil, tentou ser o mais forte...mas até nisso, perdeu pra mim."

Pararam na frente do memento da batalha de Samuriel e de um dos últimos grandes lordes do inferno e Caine esticou o braço e colocou a mão esquerda no cabo, o mesmo estava na altura de seu peito quase. Casualmente fez alguma força tentando tirar a espada de lá e nada aconteceu, seus sentinelas olharam um pra cada lado, tentando disfarçar o que testemunharam e fingindo encarar os anões que passavam olhando o trio de elfos. O rei élfico colocou as duas mãos no imenso cabo da espada, amaldiçoou o fato de ser uma área sem mana, e fez mais força - dessa vez uma força considerável, deixou até um grunhido de esforço escapar e só parou quando o suor tomou conta de sua testa. Largou a espada e a contemplou. Achava que tinha se movido um pouco - e ele não tinha usado sua força total, porém, não havia tempo a ser perdido com essa besteira.
— Vamos — afirmou de maneira determinada, e pôs-se a marchar.

          Finalmente chegaram a Rundindor, a capital anã, Caine havia recusado toda e qualquer oferta de escolta dos anões, porém mensagens foram enviadas, e os preparativos adequados foram tomados. Caine e seus sentinelas entraram direto na cidadela do imperador, sem serem parados por ninguém e foram recebidos num salão oval. Na parede, uma grande tapeçaria carmesim com símbolos e Inerill e da família imperial. Em volta da mesa, encostados nas paredes jaziam guardas completamente armadurados, tower shields e martelos em punho, um parecia uma imagem do próximo. No meio, uma rocha redonda, sólida e polida que servia de mesa, cercada de cadeiras de madeira acolchoadas, da quais três eram ocupadas. No centro estava Bruenor GoldenBeard, ele trajava roupas simples de seda, braceletes de ouro em seus largos pulsos peludos, a barba ainda mais dourada que o metal presa em 3 tranças e adornada por 4 sessões de anéis de prata. Os olhos verdes do anão acompanhavam curiosos o movimento dos elfos, e acima de sua cabeça repousava a maciça coroa de ouro e jóias de todos tipos - era a mesma coroa usada desde o primeiro dos imperadores. Ao lado direito dele encontrava-se seu irmão, Rokken GoldenBeard, o conhecido sumo-sacerdote de Inerill. Ele não era tão largo e musculoso como seu irmão mais velho, e sua barba, mais cheia e mais longa, usada solta, não tinha um tom tão forte, porém os olhos cinzas dele pareciam tomar nota de tudo que ocorria. Usava um ornamental manto de Inerill, branco com o símbolo do deus prateado bordado no meio - Um martelo com asas de morcego atrás. E por último, mas não menos importante, o caçula dos GoldenBeard, Jaegar - um notório engenheiro, conhecido por ter melhorado a famosa besta, e por estar trabalhando num projeto audacioso que ligaria todas as cidades dos anões. Ele era o mais baixo dos três, bem como o mais fraco, e sua barba era mais ruiva que dourada, e bem curta e aparada, quase não chegava em seu peito, esse que estava exposto por uma camisa com gola em V, revelando um peito forte e cabeludo, com um colar de anéis por cima. Ele era o menos formal dos irmãos, e o único que estava com sua arma à mostra, a grandiosa besta chamada Dalila encontrava-se em cima da mesa - armada.

          Os elfos sentaram-se do outro lado da mesa, os sentinelas iam ficar de pé, mas Caine com uma olhar sutil indicou que sentassem ao seu lado - era uma imensa honra para Evon e Vaer. O imperador cortou o silêncio, e foi direto ao ponto.
— Então, Caine. — encarou os olhos do elfo. — Você vem até minhas terras sem anunciar isso, e adentra minha cidadela sem nenhuma palavra, tenho certeza que o que veio pra dizer não é nada bom — a voz do imperador soava como o trovão conquistando a tempestade.
— Fico feliz que estamos indo direto ao assunto.....imperador — Caine reclinou-se na mesa, como se quisesse olhar ainda mais de perto para o anão, sua voz era calma mas perigosa, como estalar de uma fogueira. — Nós fizemos grande progresso rechaçando os trolls dos continentes verde e branco — continuou o rei dos elfos — mas nossa jornada está longe de acabar, eu venho até aqui, pedir humildemente para que você prepare uma força expedicionária, nós vamos invadir o continente vermelho.
Os dois encararam-se por um tempo, como se estivessem digerindo o que foi falado, e então Bruenor começou.

— E por que faríamos isso? — com um gesto de sua poderosa mão, ele esmagou o ar. — Nós acabamos com os Urgrosh, expulsamos todos os trolls, goblins e ogros para o continente vermelho, e mesmo as tribos de orcs no continente branco são poucas agora. Nós inclusive perseguimos os trolls pra longe da costa do continente vermelho, — sua voz elevou-se, — então diga-me Caine, POR QUE nós faríamos isso?
— Você já respondeu sua pergunta, Bruenor — disse Caine rispidamente, como brasa mexida. — porque os trolls ainda vivem, e ainda são uma ameaça. Precisamos ter certeza de que deixarão de ser. Vocês anões não entendem tanto de magia quanto nós elfos, e eu afirmo, os trolls são arcanistas perigosíssimos.
— NÃO TENTE ME LUDIBRIAR, rei dos elfos — Bruenor levantou de supetão espalmando as duas mãos na mesa, seu irmão mais novo olhou temeroso pra sua besta, apenas a poucos centímetros do golpe do imperador, gentilmente arrastou ela um pouco pra longe com a mão direita.
— Eu sei que você não está dizendo a verdade. — Caine e seus sentinelas levantaram com certa urgência, um tanto quanto assustados com a reação do imperador. O sumo-sacerdote de Inerill levantou calmamente enquanto seu irmão mais novo arrastou sua cadeira um pouco pra trás e repousou a besta em seu colo - apontada para os elfos. — Não pense que meias verdades funcionarão comigo, Caine. Qual é sua agenda? — A pergunta saiu como demanda, o imperador começou calmamente a caminhar em volta da mesa. Ele usava um pesado cinturão de metal ornamentado com runas anãs, e preso ao mesmo estava Mjolnir, o primeiro martelo. O elfo não deixou por menos e também circulou a mesa, seguido de perto por seus sentinelas. Os dois entreolharam-se. Caine era quase duas cabeças mais alto que o anão, porém o mesmo lembrava um urso com sua largura incrível e seus braços rijos, parecia ser capaz de abraçar e esmagar o elfo até a morte.
— Eu mudaria o tom ao falar comigo, garoto — Caine olhava o imperador anão de cima, sua frase foi meticulosamente colocada de forma lenta, dando ênfase em tom e garoto. — você pode estar na metade final de sua vida, mas eu conheci o primeiro de sua família..... e conhecerei o último. — Os olhos de Bruenor tremiam, ele levou uma das mãos até o cabo de seu martelo e o apertou com força até os nós dos dedos ficarem brancos. Seu irmão colocou-se ao seu lado e encarava Evon com serenidade, como se o sentinela não fosse nada além de decoração no salão. O mais novo dos anões continuava sentado com sua besta no colo, como se não tivesse se movido, porém Vaer de canto dos olhos percebia que agora o virote tinha uma ponta negra com veios vermelhos.
— Você nunca vai ter metade da realeza que os DragonSlayers tinham, você sabe disso, né? — proferiu o imperador com raiva na voz, o corpo dele agora encostava o do elfo, e ele olhava pra cima direto nos olhos azulados de Caine.
— Ele renunciou porque quis, e eu sou a melhor opção para os elfos agora. Você devia me respeitar, EU MATAVA DEMÔNIOS MUITO ANTES DOS SEUS ANCESTRAIS RASTEJAREM PRA FORA DA MONTANHA — Caine falava alto, com os braços abertos e palmas viradas pra cima. A tensão subia na sala. — você vai ou não mobilizar suas tropas? Eu quero destruir os trolls, erradicá-los da face do Primórdio.
— EU NÃO GOSTO DOS TROLLS TANTO QUANTO VOCÊ, MAS PELAS BARBAS DE INERILL, ISSO NÃO É RAZÃO PARA ENTRARMOS NO CONTINENTE VERMELHO E PERSEGUIRMOS ELES ATÉ O MALDITO DESERTO, O QUE SE PASSA NESSA SUA CABEÇA OCA DE ELFO? — os dois agora gritavam abertamente um com o outro, o imperador cuspia e babava de raiva ao falar, e Caine revirava os olhos antes mesmo dele acabar suas frases, porém em um último esforço, ele respirou fundo e disse com calma, ainda que agressivamente.
— Seu pernas curtas imbecil, você não consegue conceber metade das coisas dessa realidade, seria impossível baixar até seu nível intelectual e te explicar tudo, só confie em mim.
— NÃO, E ESSA REUNIÃO ESTÁ TERMINADA, E SE VOCÊ... — Bruenor foi interrompido por Caine, que em um movimento gracioso sacou as espadas presas em suas bainhas no cinturão. A espada da direita parecia feita da própria luz, reluzia como um sol branco. Jaegar teve que tapar os olhos após encará-la. Já, a outra arma era feita da mesma matéria que a escuridão. Era como se ondas da energia negra destruíssem a realidade em volta e a absorvessem para dentro da espada. Eram as obras-primas do primeiro ferreiro, Zessex, Luz e Escuridão. Rokken no entanto não conseguiu parar de achar que a espada da escuridão parecia mais forte que a da luz - e segundo as lendas, as duas eram para ser iguais.

          Tudo aconteceu muito rápido. Antes de 1 segundo terminar, Caine estava em posição de combate, as pernas bem abertas, Luz apontada para o imperador e Escuridão para o sumo-sacerdote. Evon e Vaer estavam agora um passo à frente de seu mestre, Evon tinha uma rapier, e estava pronto para defender qualquer golpe que os quatro anões à frente desferissem, e Vaer tinha um arco, com 3 flechas armadas e apontadas para o besteiro. Os guardas tinham corrido até a comoção, um deles estava ao lado do imperador com seu escudo, o outro ao lado do sumo-sacerdote. Os outros dois cercavam os elfos, mas mantinham uma cautelosa distância. Os dois irmão mais velhos estavam lado a lado com seus martelos em mãos, Mjolnir exibia uma tremenda aura elétrica, e nem mesmo Caine conseguiu deixar de olhar para o artefato lendário e imaginar o estrago que um golpe limpo causaria. Já o mais novo dos Goldenbeard estava agora com a besta braceada na mesa, e apontava seu virote para o olho do rei dos elfos. Ele tinha total ciência que o arqueiro estava em seu encalço e desafiava Mandhros com sorriso destemido. Os dois grupos preparavam-se mentalmente para uma luta que poderia explodir a qualquer minuto, um tomando cuidado com sinais de agressão do outro, mas o que ocorreu foi algo que não poderia ser imaginado, e nenhum dos anões conseguiu agir até ser tarde demais.

          Caine, com a mesma graciosidade de um lince, girou suas duas espadas no ar, e desferiu um corte com cada ao mesmo tempo. As lâminas atingiram as nucas de seus sentinelas élficos. Os cortes foram tão devastadores que mais da metade do pescoço foi cortada. A cabeça dos elfos pendeu pra frente na direção do peito, como bonecos de pano, as mãos largaram as armas e os corpos desmoronaram no chão.
— PELAS BARBAS DE INERILL, O QUE VOCÊ FEZ, SEU ELFO VELHO E LOUCO? — Todos os anões recuaram ao menos dois passos, tentando absorver o que tinha acontecido. O imperador até baixou o martelo e levou sua outra mão à boca. E então Caine começou, a voz fria, como se estivesse falando do tempo.
— Se alguém usar magias de conhecimento e informação nesse salão ou em qualquer item dos aqui presentes, eles verão os seus anões atacando a mim e matando meus servos. — olhou em volta encarando os olhos de cada um dos presentes, enquanto reassumia uma pose de combate, agora com a perna da frente flexionada e a outra esticada pra trás. Um dos braços curvado com a espada por cima de sua cabeça, o outro rente ao corpo, com a espada apontada pra frente. — Se vocês decidirem me atacar e me matar, isso também aparecerá nas magias. Os elfos declararão guerra aos anões, e nós e os macacones vamos esmagá-los. — A calma daquele elfo era agonizante para o imperador, ele até ignorava o sangue de seus companheiros que escorria pelo chão e encostava em suas sandálias.
— O QUE VOCÊ PRETENDE? — O imperador avançou, seguido por todos os outros anões, eles se aproximaram perigosamente do elfo, suas intenções em evidência em seus semblantes.
— Talvez... — continuou Caine, na mesma voz calma, mas tomando nota do avanço dos outros, como um mangusto que se prepara para o bote da serpente — ... vocês me vençam aqui, mas eu lhes garanto que não será sem baixas. E eu focarei na morte de seus irmãos, Bruenor.
O imperador avançou, descrevendo um incrível arco com seu martelo, um golpe que começou embaixo e atacava por cima, isso no mesmo instante que o sacerdote atacava lateralmente com sua própria arma e canalizava a energia de Inerill para parar o elfo, os dois guardas da frente tentavam baixar as espadas de Caine com seus escudos, o virote de Dalila sibilava no ar, e os dois anões vindo de trás atacavam com tudo, desferindo marteladas com a maior velocidade possível, sem ligar para os contra-ataques que poderiam vir. Mas o elfo tinha ciência de todos os golpes, ele via tudo. Primeiro, entoou uma palavra secreta: — RÁÁÁÁÁÁÁÁÁ — reforçando sua própria magia e anulando qualquer coisa que o clérigo estivesse tentando fazer. Depois ele deu um pulo pra trás se afastando do golpe do sacerdote e fazendo o virote passar direto, a menos de 1 centímetro de sua testa. Desvincilhou Escuridão do anão à sua direita e usou a arma para defender os dois golpes que vinham por trás, aparou ambos com o mesmo movimento. Tentou tirar Luz do domínio do outro guarda mas não conseguiu, e evocou outra magia para auxiliar em sua esquiva - o que ainda assim não foi suficiente. Bruenor acertou o meio do peito do elfo com Mjolnir, um trovão nasceu do impacto
— KABOOOOOOMMM
seguido por um clarão imenso que deixou todos ali desnorteados. Quando recobraram suas visões, o elfo estava alguns metros afastado, ele tinha aproveitado o golpe e rolado acrobaticamente com o impacto do martelo, e agora não estava mais no meio de vários anões. Seu robe estava arruinado, exibia agora seu peito musculoso e chamuscado, com uma fumaça negra ainda subindo dali. Porém, pra surpresa dos anões, o elfo estava rindo, e ainda em pose de combate.
— Bruenor, eu achava que um golpe desse seu martelo seria mais forte, — provocou Caine — você tem certeza que quer continuar essa dança? Como eu disse, vai acarretar em uma guerra entre os elfos e macacones contra os anões, e agora eu até acho que talvez consiga matar todos vocês e sair vivo daqui.
Ele sabia que isso não era verdade, não com o teleporte banido, mas cada vez mais acreditava que conseguiria pelo menos sair da cidadela, deixando um rastro de anões mortos em seu caminho.
— Você está louco, Caine, não vê isso? — O imperador tentou apelar para o bom senso do elfo.
— ESCOLHA AGORA, PERNAS CURTAS, SEU POVO OU SEU ORGULHO? — Vociferou o elfo, com ódio ardendo em seu olhar. Escuridão parecia cada vez mais sinistra, hora com ondas negras, hora com onda roxas.
— Está bem. Nós prepararemos a comitiva. E eu sei que você vai precisar de blocos anões pra viagem no deserto, e caravanas tanques de água. — o líder dos anões parecia arrasado, a voz outrora sultuosa agora estava branda.
— Você escolheu bem, Bruenor — o elfo guardou suas armas. Anões eram cabeças duras mas extremamente honrados, e uma vez que ele tivesse concordado, ele não voltaria atrás.

          Os guardas se recompuseram e os três irmãos observaram atônitos enquanto Caine recolhia as armas e os pertences mais importantes como anéis e brincos de seus sentinelas mortos. O elfo sabia que não precisava se explicar, mas o fez ainda assim, não estava aguentando o olhar de censura dos anões - como se eles fossem superiores a ele.
— Esses dois traíram os elfos ainda na era das lendas. Eu descobri que eles compactuaram com diabos. — leu as expressões dos anões e então continuou enquanto aproximava-se do imperador.
— Eles concordaram em me servir, e que suas vidas seriam minhas para eu usar como bem entendesse. Eram traidores da raça, e hoje serviram um propósito maior.
— Quantos anos se passaram, Caine? Você permitiu que eles se redimissem, e os assassinou. — Bruenor olhava horrorizado pro elfo. Se ele era capaz de fazer isso com dois de sua raça, que o seguiram por milênios, até onde ele chegaria com outros que não seus semelhantes? Até onde ele iria?
— Eles morreram me defendendo bravamente de um ataque de trolls — o elfo encarou o anão, os dois olhavam-se fixamente — e é isso que a história lembrará. Eles são heróis agora, e se seus espíritos pudessem ser contactados, é isso que diriam.
— Você.... — o sumo-sacerdote de Inerill exitou por um instante, mas depois o fogo reacendeu em seus olhos e ele continuou com firmeza — você OUSA usar NECROMANCIA, você ousa dessacrar o espírito de seus irmãos?
Caine olhou pro sacerdote com desdém, como se tivesse ouvido uma coisa absurda,
— Não se esqueça, clérigo — começou o elfo — que não são apenas vocês que podem usar magias emprestadas de seu deus. Nós elfos fomos criados por Mercius, exatamente como Inerill.
O anão começou a falar em protesto, mas o elfo continuou com um gesto.
— Não estou aqui pra discutir magia ou moral com você. Eu já tenho o que preciso, e agora, com sua licença, eu vou indo.
O rei dos elfos começou a caminhar para a porta, mas virou quando Bruenor chamou sua atenção.
— Caine — o anão olhava pra ele com raiva, e como se estivesse novamente a ponto de atacá-lo — nunca mais volte aqui com outros pedidos como esse, ou por Inerill, meu povo poderá sofrer, mas de mim você só terá o martelo.
O elfo assentiu respeitosamente com a cabeça, mas sem se mexer disse.
— Eu sei disso, Bruenor, mas não se preocupe.... — deixou o assunto um pouco no ar, enquanto um sorriso formava-se em seu rosto — se um dia eu precisar negociar algo do tipo novamente, você...e seus filhos já terão morrido há muito tempo.
Os anões cerraram seus punhos, e o elfo fez menção de virar-se, mas Goldenbeard continuou
— Só me diga uma coisa Caine — o anão aproximou-se do elfo e os dois líderes encaram-se de perto uma última vez — por que?
Caine pensou em não responder, pensou em ir embora, pensou em muitas coisas, mas decidiu que o anão merecia a verdade, aqueles olhos verdes do imperador eram mais poderosos que o próprio anão.
— O profeta Olorin, aquele que veio do futuro com seus companheiros, ele disse que trolls matariam minha esposa. — o elfo olhou para o anão, e pela primeira vez naquela reunião, a arrogância parecia ter tirado folga.
— O profeta Olorin disse que em todos futuros que eles conheciam, a morte da minha esposa me tornava um monstro. Um monstro que queria dominar e destruir tudo, um monstro que queria vingança. Você não entende, Bruenor, se eu fiz o que fiz....se eu faço o que faço, é porque quero evitar isso. Eu não quero virar um monstro.   Caine soava quase como se estivesse assustado.
E dizendo isso, os dois colocaram as mãos um no ombro do outro, e o elfo virou e começou a sair do salão. O imperador anão deu um passo à frente e disse, recobrando sua voz de trovão.
— É ótimo que sua esposa esteja segura, mas é uma pena que ela não tenha precisado morrer para que você se tornasse um monstro, rei dos elfos.
Caine continuou caminhando, uma lágrima escorreu de seu olho, aquilo havia doído mais que a martelada no peito. Ele pensou em mil respostas, mas estava ocupado demais tentando impedir a tremedeira em sua boca, e as lágrimas que teimavam em escorrer - ninguém jamais o veria chorar, e ele faria tudo para manter sua esposa segura, faria tudo que precisasse pros elfos prosperarem, faria cada coisa em seu alcance para manter o mundo a salvo.

5 comentários:

  1. Flávio, o PBF voltou, de alguma maneira, ou são apenas contos? Qual a sua ideia?

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  2. Bem, eu continuei esse tempo todo mestrando no mundo do Primórdio.
    E junto com o que vocês criaram, eu criei e meus jogadores criaram com o passar do tempo, o cenário ficou ainda mais rico.

    Isso aqui é um blog do meu jogo, que é focado pro sistema GURPS. E aliás, o próximo post que sai nos próximos dias será sobre os Kyrin, hehe.

    Eu tenho também um livro ainda não terminado no mundo, e projetos de jogos, que ainda estão no papel =p.

    Mas eu certamente jogaria um PBF se o pessoal se animasse, hehe.

    Fique à vontade pra comentar, usar qualquer coisa do blog, ou até mesmo, se quiser postar algo, só me mandar!

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  3. Cara, que legal! Fico feliz de ver a coisa tomando corpo, tanto tempo depois!

    Meu tempo anda bem reduzido, mas vou te mandar algo qualquer hora, com certeza!

    Se você tiver o material do blog em arquivos offline e puder me encaminhar por e-mail, eu te agradeceria imensamente (enricoweins@gmail.com)!

    No mais, se quiser rolar um PBF, podemos articular!

    Forte abraço!

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  4. Eu vou depois compilar do blog e mandar pro seu e-mail.
    E caso estivesse curioso, os Kyrin saíram, hehe!

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