sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A Jornada de Vadin

               



                 Era um tarde fria de outono. Com a chegada do inverno, a paisagem composta por árvores de folhas secas e marrons ia dando lugar à neve e ao gelo. O ciclo final da vida no inóspito continente azul, onde normalmente, tudo acaba morto e congelado.

                 Na falsa segurança de um abrigo improvisado, um troll resmungava entre os dentes, enquanto tentava se aquecer à beira de uma pequena fogueira:

              - Maldição! Vadjinn estar andando meses nesse maldito wasteland gelado e tudo que Bastion saber falar é que tudo valer a pena quando alcançar templo de Bahamut. Como se já não bastar esse ganancioso Deus Dragão roubar toda recompensa de Vadjinn.
              - ­ Acalme-­se Vadjinn. -  disse o elfo com uma voz suave e calma. - Tudo que estamos fazendo tem um propósito. Indeed a viagem é longa e árdua, porém...
              - "Tudo valerá à pena quando alcançarmos o templo de Bahamut..." – pôs-­se o troll a remedar o amigo. ­ É bom valer a pena mesmo Bastion, Vadjinn não ver como andar igual idiota na neve ajudar contra anjos.

                 Os dois formavam uma dupla estranha. Bastion era o Paladino de Prata de Bahamut - um belíssimo elfo de cabelos dourados e olhos azuis – sua presença inspirava confiança ao mesmo transmitia uma serena aura de bondade. Já Vadjinn era um troll negro, de presas pontiagudas e cabelos vermelhos. Sua barba era estranhamente bem arrumada, feita em forma de trança e ornamentada com anéis de ligas metálicas. Diferente de seu companheiro élfico, a visão dessa criatura remetia à malícia e perversão. Ambos estavam enrolados em grossos casacos de pelo, escondendo a cútis do vento gelado que insistia frequentamente em lhes açoitar. Após uma breve refeição composta de lembas, frutas secas e um pouco de carne salgada, eles fizeram mais um pernoite naquela terra amaldiçoada.

                 Azulia era um local horrível. O frio era capaz de congelar até os ossos dos mortais e o continente servia de refúgio para fugitivos de diversos lugares do mundo. Ladrões, estupradores, assassinos, piratas, rufiões, fugitivos da lei, dos fora­-da-­lei, desertores do exército e toda sorte de scumbags traiçoeiros. Como se não fosse suficiente, aquelas terras também eram o lar dos terríveis Ursonis, uma raça de gigantescos homens-­urso extremamente fortes e ferozes. Além disto, por todo seu território pairava a presença constante e ameaçadora de um exército de vampiros poderosíssimos, liderados por Kane – O imortal. A influência da cidade­-estado do Imperador morto­-vivo vinha aumentando a cada dia, tornando as noites mais longas e dando mais liberdade para seus asseclas agirem livremente.

                 Quando acordou pela manhã, Vadjinn se deparou com o elfo já de pé e pronto para seguir viagem:

              – Ah, bom dia. – disse Bastion com um sorriso tímido – Apronte­-se rápido, temos um longo caminho a percorrer até o anoitecer.
              – Não amolar – retrucou o troll, obviamente mal-­humorado.

              Com um leve smirk no canto da boca, Vadjinn se abaixou e cumpriu seu ritual de todas as manhãs – pôs­-se a defecar fedorentamente a poucos metros do elfo, que apenas suspirou e balançou a cabeça para mostrar sua desaprovação.

               – Você precisa mesmo fazer isto todos os dias? Indagou o Paladino de Bahamut.
               – Claro! Se Bastion não kagar, não ser problema de Vadjinn.

                 O troll frequentemente fazia questão de despertar a repulsa alheia – aparentemente isso alimentava seu humor sádico ­ e também lhe afastava um pouco do tédio. Após a cerimônia desagradável e rotineira, os dois se puseram a invocar diversas magias – o elfo apesar de ser um Paladino, também era um poderoso mago, tendo passado centenas de anos desenvolvendo suas habilidades. Já Vadjinn era um mero dabbler das artes arcanas, mas era capaz de feitos extraordinários por conta de sua capacidade troll de regeneração – isto feito, ambos selaram seus cavalos e seguiram para o norte.

                  Já passava das duas da tarde quando fizeram uma pequena parada. Vadjinn estava extremamente irritado, estava há horas suportando o Paladino lhe dando peskotapas. ­ Você precisa estar sempre alerta para o perigo – o elfo repetia cada vez que lhe esbofeteava o pescoço.

                – Ich will essen deinen Arsch , während Sie schlafen – o troll retrucou com raiva em
sua língua nativa.
                – Está se esquecendo que eu sou fluente no idioma troll, Vadjinn? Você não vai comer meu rabinho élfico enquanto eu durmo. ­ disse Bastion com um largo sorriso no rosto. ­ Lembre­-se de que tudo faz parte de seu treinamento.

                 Cenas semelhantes a estas se repetiam há meses – algumas vezes as discussões eram mais acaloradas e o troll parecia que ia perder o controle, para logo em seguida se acalmar e voltar ao normal – Mas essa tarde havia algo diferente no ar. O vento frio trazia cheiro de morte e o olfato apurado de Vadjinn era capaz de discernir a fragrância de carne humana queimada. Ao leste, no horizonte, uma larga mancha de fumaça negra subia pelo céu...

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